domingo, 24 de outubro de 2010

No episódio passado Izac, Asmodeus e Queixada foram levados para um ônibus onde conheceram outras pessoas que iriam viajar por motivos bem diferentes do deles. A suspeita de algo errado foi tardia e eles acabaram adormecendo só acordando em uma outra e cruel realidade, agora eles são escravos em um lugar desconhecido chamado de Opus Calibalion II.



IZOLDA
EPISÓDIO 2

O PRISIONEIRO DE VEDHA


E ali começou o martírio daquelas vítimas de um complô desconhecido. Durante todos os dias, eles trabalhavam como escravos nas minas do Forte Prisão Número Quatro, comendo apenas mingau sem gosto e bebendo água suja tirada das goteiras da infiltração das rochas. Havia muita gente lá, muita mesmo! Eram todos seres humanos, terrestres pelo menos. Os guardas também pareciam humanos apesar do tamanho avantajado do corpo e a pele amarela. A maioria dos guardas usava uma espécie de elmo que fechava todo o rosto, a única coisa que podiam ver eram suas pupilas douradas. A cada instante pessoas adoeciam e eram levadas... Estas nunca mais voltavam. Não era uma boa idéia adoecer naquele lugar, era comum a ocorrência de fraturas por qualquer tombo maior que oitenta centímetros, uma queda de apenas dois metros poderia ser fatal. Para piorar os guardas espancavam as pessoas sem qualquer motivo. Izac mesmo foi vítima de surras várias vezes, os guardas apenas diziam: “Este lugar é tedioso.” e baixavam a porrada. Era um milagre ele não se machucar com gravidade o que ocasionaria sua morte, outros tantos que ali chegaram não tiveram a mesma sorte.

Izac percebeu que sempre quando muitas pessoas morriam um novo ônibus cheio de gente chegava. Era sempre assim, o número de pessoas humanas ali não variava, era sempre cerca de duas mil. Os dias passavam de forma sempre igual e com o tempo as únicas pessoas conhecidas de Izac eram Asmodeus, Queixada e o velho chamado Osvaldo Malaquias, todos os outros que estavam naquele ônibus desapareceram. A única boa notícia é que ele já entendia o idioma estranho que os guardas falavam e aos poucos começou a balbuciar palavras e a conseguir negociar com os guardas, que, talvez por orgulho, acabavam poupando sua vida um pouco mais.

Numa noite, Izac resolveu fugir da prisão e se aventurar sozinho pelo lugar. Ele reparou que todos os objetos das pessoas eram levados para uma pequena torre do outro lado da mina. Ele foi até lá, entrou por uma pequena e estreita janela. Foi fácil, estava muito magro por causa da má alimentação. Encontrou roupas e utensílios cheirando a mofo, tudo jogado pelo chão sem o menor cuidado. Ele encontrou vários telefones celulares que estavam todos sem bateria, encontrou também alguns relógios e o resultado foi o mesmo. Em um lance de sorte encontrou um relógio ainda funcionando. Quando olhou a data, quase caiu para trás. Já haviam se passado quatro anos! Ele enrolou o relógio em um pano e guardou consigo.

Não satisfeito, o prisioneiro gatuno saiu pela janela e circulou pela torre até chegar a um refeitório. Lá os guardas bebiam, riam e se divertiam com mulheres amarelas, magras como bambus dançando. Guardas? Izac ficou assustado com o que viu. Apesar da feição humana, o corpo deles era dilatado, deformado com a quantidade exagerada de músculos e veias que saltavam pelo corpo. E o que estavam comendo? Carne humana. Sim, os escravos eram simples gado. Era isso que acontecia com os que não podiam mais trabalhar. Era a confirmação de que ele estava realmente no inferno!

Izac disparou de volta para a senzala e lá ficou encolhido e assustado até o dia seguinte.
“Ninguém vai sair vivo daqui!” – pensou apavorado – “Estamos todos condenados!”

Sua mente vacilou, pensou então em se entregar, permitir que a dor e a doença consumissem o seu corpo e a sua alma para finalmente encontrar o descanso nos dentes cruéis daqueles monstros infernais. Foi exatamente então que se lembrou do erro que cometeu ao se envolver com os traficantes, lembrou-se da sua família e principalmente das pessoas inocentes que estavam sendo mortas naquele lugar. De certa forma ele merecia passar por aquilo, mas e as outras pessoas? Havia muita gente que só queria trabalhar que acabaram morrendo ali. Ao pensar em justiça a primeira imagem que veio em sua cabeça foi o rosto do pai.

“Não, não vou me entregar! Eu não quero morrer! Meu pai espera que eu retorne para casa como um homem. Vou lutar até o limite das minhas forças e provar para ele que cresci! Já paguei pelos meus pecados, agora é hora de agir!”

A partir daquele dia o olhar de Izac mudou, estava determinado a mudar seu destino. Continuava sendo um escravo que não desobedecia nenhuma ordem, trabalhava com afinco durante o dia para não chamar a atenção de suas fugas durante a noite. Com posse do relógio passou a aprender a medir o tempo e a calculá-lo. Viu logo que o dia ali tinha trinta e seis horas contra vinte e quatro dos dias terrestres. Trocando idéias com outros prisioneiros concluiu que aquele planeta deveria ser maior que a terra e a quantidade de oxigênio um pouco maior, pois todos que chegavam passavam mal, mas aquele mingau que eles comiam, de certa forma, ajudava na adaptação.

Ele tinha certeza que explorando com cautela os corredores daquele inferno poderia em algum momento encontrar uma saída. Escapuliu uma, duas, três... Várias vezes... O tempo passava e depois de mais de dois anos ele teve a sorte de percorrer um corredor que nunca havia passado e acabou encontrando um conjunto de celas. Olhou pelas grades de uma delas e viu um homem branco, de meia idade, magro, com barba e cabelos com cor vinho e olhos perolados. Sem dúvida não era um dos guardas, pois estava, além de amarrado com correntes de aço, tinha duas lanças atravessando o seu corpo de lado a lado formando um “X”, impedido que ele pudesse escapar. Izac o olhou assustado e condoído, já que estava claro que o prisioneiro estava gravemente ferido.

_ Você não é um deles... Que tipo de ser é você?

O condenado levantou a cabeça e o fitou.

_ Estou com fome... – reclamou finalmente o prisioneiro.

_ E o senhor come o quê?

_ Qualquer coisa... Qualquer coisa mesmo. Não como nada já faz dias!

O escravo gatuno esgueirou-se pela tubulação suspensa que seguia os corredores e invadiu o refeitório dos guardas... Não pegou nenhuma carne, pois era carne de gente, mas levou o que pôde de mingau e frutas.

Izac improvisou uma escada e alimentou o condenado como pôde. Também ajudou-o a se limpar, deu-lhe água e, mesmo com problemas por causa da altura, conseguiu lavar-lhe a cabeça e o rosto. Em seguida começou a examinar o local e percebeu o motivo da ausência de câmeras de segurança ou algo assim como nos filmes, todas as travas que prendiam aquele homem possuíam sensores, escapar sem ser notado seria impossível para ele.

_ Devo-lhe a minha vida garoto, mas como pode perceber não posso sair daqui, pois estou muito fraco e não tenho condições de lutar! Você é um dos estrangeiros, não é?

Izac pensou um pouco, depois fez que sim com a cabeça.

_ Entendo, você também é uma vítima. Com certeza foi arrastado do seu mundo para cá como os outros, não é? – disse o prisioneiro. – Você veio de onde?

_ Planeta Terra. Que lugar é este aqui? Falam de um tal de Opus Calibalion II... Que diabos é isso? Como faço para ir embora?

_ Este é o nome que os invasores deram ao nosso mundo. Na verdade aqui é Áurius, meu planeta. – respondeu. – Eu sou o rei Morvan Kimsley, o dragão dourado das sete caudas e regente do reino unido de Kimsley e Vedha. Pelo que vejo veio de um mundo menor que o nosso, pois o seu corpo e os seus ossos são frágeis, você não tem a menor chance contra nenhum de seus captores, a única forma de escaparmos é se conseguir achar algo para mim.

_ O que é?

_ O Starheart! Escute, vou lhe contar uma história!

“Os seres que te raptaram chamam a si mesmos de Superiores, eles viajam pelo cosmos atrás da chave para construir universos. Através da ciência deles, eles dizem que as estrelas nascem a partir de colunas de gases estelares que se tornam tão densos em seu interior que entram em colapso e se fundem, crescendo ao absorver a massa em sua volta. A ciência deles diz também que quando uma estrela morre estes gases estelares se formam... Ou seja, a estrela morta torna-se pó e gases, então estes gases por algum motivo se aglutinam e formam uma ou várias estrelas outra vez repetindo este ciclo eternamente. Só que existe aqui um problema, as estrelas mais antigas são mais velhas que o próprio universo conhecido levantando a seguinte questão: o que forçou o ajuntamento destes gases estelares pela primeira vez quando não havia estrelas? De onde vem então vieram esta ou estas primeiras estrelas que ao morrerem geraram as outras?”

“Os Superiores descobriram que a resposta estava numa simples estrela morta, uma anã negra. Dentro do corpo de uma estrela extinta existe uma poderosa chama energética, um pequeno sol do tamanho de uma pequena ervilha que possui o poder da criação, pois é capaz de atrair e fundir os elementos cósmicos. Starheart, o coração das estrelas! Ele é o estopim para a vida, o princípio do nascimento de um sistema solar. Algo que veio de uma estrela morta, para trazer ressurreição... Um verdadeiro presente do Deus do Infinito.”

“Porém, os Superiores não acreditam em Deus, apenas na ciência deles. Acham que podem controlar tudo através da tecnologia. Seu estilo de vida abusivo e dispendioso devora os mundos e os consomem até que os planetas por eles ocupados acabem se tornando desertos. Está difícil para eles encontrarem novos planetas, portanto agora eles estão com um novo projeto que é construir novos sistemas solares com o auxílio do Starheart.”

_ E o que isso tem a haver comigo, camarada?

_ A mina que vocês estão escavando é na verdade um enorme pedaço de uma anã negra de um universo anterior a este que se fundiu ao meu mundo durante a criação do próprio planeta há milhões de anos. Vocês estão escavando em busca de um Starheart. Você precisa encontrá-lo antes dos Superiores, não pode deixá-los tomar posse desse poder!

_ E como eu faço isso?

_ Você possui uma vantagem que os outros não têm. Você sabe que precisa chegar ao centro da anã negra antes dos outros e sabe como se parece um Starheart. Venha aqui, e toque a minha cabeça.

Izac tocou e viu claramente a pedra que deveria encontrar. Ficou assustado.

_ Não se apavore, sou um uma criatura tão antiga que você nem imaginaria. Eu converso com os espíritos anciões do cosmos em meus sonhos, e sou capaz de caminhar com eles em espírito muito antes de você imaginar nascer. A imagem que você acabou de ver é a que eles mostraram para mim.

_ Então você é um tipo de profeta?

_ Pode-se dizer que sim, a única coisa que peço pelo bem de todos os seres livres no mundo é que jamais entregue esta jóia a eles. Ao trazerem pessoas do seu planeta para serem escravos aqui os Superiores revelam a intenção de atacar o seu mundo num futuro próximo. Aqui neste mundo existem seres com grande força dispostos a lutar contra os invasores. Minha esposa, por exemplo, era uma Potência, um ser divino equivalente a um deus. No entanto ela foi morta por eles, um pecado para o meu povo e minha família, pois tenho filhas jovens que agora estão só! Estes seres gananciosos estão destruindo o meu mundo!... E tenho que admitir que estes desgraçados são realmente muito poderosos!...

_ Você tem filhas?

_ Sim, uma delas se meteu a me acompanhar... Verena... Ela só queria ajudar. Fui preso há alguns dias... Acho que consegui salvá-la e ela escapou na guerra, mas não tenho certeza... Estou muito preocupado com ela.

_ Não sei como será o nosso futuro, mas quero acreditar que vocês possam se reencontrar ainda!

_ Você é bom, garoto! Muito obrigado, suas palavras me dão esperança!

No dia seguinte, Izac cavava o túnel em linha reta, não abria a cova como deveria. Deixava o local estreito de modo que só se podia passar uma pessoa. Os guardas ordenavam a outros que aumentassem o tamanho do túnel, mas estes trabalhavam devagar, ao contrário do rapaz. Assim aconteceu por mais três dias até que numa noite uma surpresa aconteceu. Um dos guardas gritou:

_ Guardas, Comandante Straxus ordena que todos estejam em prontidão, pois Lady Verena de Vedha exige uma audiência imediata!

Os outros continuaram comendo seu mingau, menos Izac que sabia de quem se tratava. Ele correu para o local e se posicionou ao lado de um guarda enorme que nem se importou com a presença daquele rato maltrapilho.

Então ela veio acompanhada de uma meio-elfa e dois centauros armados. Uma elfa jovem, alta, alva como a neve, com cabelos e olhos cor de anil tão chamativos que chegavam a brilhar. Andava com o corpo ereto usando uma armadura branca e trazia um cajado de ouro.

_ Caramba! A filha do condenado é linda!

O guarda viu o comentário e riu. Agarrou o pobre Izac pelo cabelo e o arremessou para o centro da praça fazendo-o cair aos pés da visitante.

_ E aí escravo, dê um beijinho na princesinha de Vedha! Hahahahah!

A gargalhada dos guardas foi geral. A meio-elfa, protetora da princesa, sacou a espada e avançou contra o escravo.

_ Raven, não! – bradou a imperatriz. Imediatamente a guerreira baixou a arma.

Por um instante a princesa e o escravo se olharam. Izac ficou desconcertado com a situação humilhante e desviou os olhos.

Então, Verena se abaixou carinhosamente sobre o corpo do escravo, tocou o queixo do infeliz e deu-lhe um leve beijo na boca. Izac ficou anestesiado, não acreditou na cena. Os ditos Superiores ficaram constrangidos, ninguém riu. Já Verena levantou-se elegantemente olhou para o guarda autor da brincadeira e sorriu irônica. Ele evidentemente baixou a cabeça.

_ Lady Verena de Vedha, que visita interessante! – saudou o comandante Straxus de longe.

_ Comandante Straxus, finalmente!

_ Você e sua tola resistência não são nada para os Superiores, portanto não sei o que está fazendo aqui!...

_ Sabe sim, vim pelo meu pai. Tenho um batalhão pronto para atacar este lugar e se quiser poupar sua vida é melhor devolvê-lo.

Straxus sorriu.

_ Então a princesinha capaz de fazer surgir em si um par de asas de cisne supõe que nós, conquistadores de galáxias, tememos um grupo de bruxos de um mundo pré-histórico como este? Faça-me um favor, poupe-me de suas ameaças vazias, se você quiser atacar este lugar que ataque! Acha que o resultado será diferente do último encontro? A batalha onde o seu pai foi subjugado? Lembre-se da própria história princesinha, pois pelo que me lembro, em uma falha sua que me permitiu capturar o seu poderoso pai.

Verena fechou a cara com tristeza e ódio, Izac não sabia o que aconteceu naquele dia, mas pelo jeito da princesa ficou claro que o fato aconteceu realmente por culpa dela.

_ Hu, hu, hu! Onde está a sua irmã, aquela que dizem ser o presente dos deuses, a única fênix do mundo, a prometida, aquela que nasceu do ventre de uma deusa e do rei de todos os dragões, aquela que as profecias daqui dizem que vai conduzir o povo à vitória contra nós? – ironizou o comandante. – Hu, hu, hu! Ela talvez fosse alguma preocupação, mas você? Você não passa de um bibelô que com muito esforço talvez sirva para brincar com meus mascotes!

Os soldados começaram a rir. A princesinha engoliu o orgulho e ficou calada.

_ Prepare o maior exército que você conseguir e venha! Eu só te deixei viver porque sei que você não é e nunca será a metade do comandante de tropas que ninguém da sua família é ou foi! – retalhou Straxus. Em seguida virou-se e se retirou completando – No nosso próximo encontro eu não cortarei apenas parte de suas lindas asas.

Visivelmente aborrecida, Verena retirou-se com seus guardiões. Izac observou toda a cena em silêncio.

“Estou certo que o velho Morvan me disse a verdade. Tenho que achar aquela coisa antes de todo mundo, é o único jeito de mudar essa situação.”

E no dia seguinte, o jovem voltou a trabalhar como nunca. Estava resolvido a achar o tal do Starheart naquele dia e nada iria desviá-lo de seu objetivo.

... Continua


Próximo domingo: O Starheart finalmente é encontrado. Izolda: 3° Episódio - "O Fantástico Cavaleiro da Galáxia" Boa semana!

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